Quando falamos em sonhos, logo pensamos naquelas coisas difíceis de realizar. Naquelas coisas que tomam nosso tempo, nossa energia, mas que nos movem. Que nos fazem acreditar que vamos chegar lá.
E, no meio do caminho, aparecem milhares de pedras. Algumas você lança pelo lago e vê quicando na água. Outras a gente chuta. Mas, tem aquelas, que a gente guarda. Que, por mais difíceis de carregar, elas fazem parte de uma coisa muito maior do que podemos imaginar.
As minhas pedras? São 26. Fazem parte da minha vida inteira. Assim como meu nome completo, vão de A a Z. São todas as letras.
Letras que formam, que expressam, que acolhem, que ensinam, que expõe, que educam, que revoltam, que enlouquecem. São pedras no caminho que eu escolhi guardar, por mais pesadas que fossem.
Se eu tivesse estudado engenharia, construiria prédios. Se eu tivesse estudado medicina, salvaria vidas. Mas, quando se estuda letras, se escolhe muitas vezes nem dizer, para esperar pelas palavras certas.
E, carregar essas letras, é um fardo difícil de carregar sozinho. Daí elas nos saltam num verso qualquer em alguma linha vazia. E, quando a gente vê, elas estão ali guardadas na sua gaveta, amontoando poeira.
Daí vem a vida, essa estranheza louca da natureza - que não nos pede licença, nos larga no mundo e nos deseja boa sorte - e faxina a sua história com um olhar de mãe que lê os seus diários enquanto você dorme e lapida aquelas suas pedras tão difíceis de carregar.
E, daí, você descobre que todas aquelas pequenas feridas, que a trajetória da sua vida deixa na suas histórias, eram apenas pequenos diamantes sendo lapidados. E você olha pra trás, com aquela sensação nostálgica e diz pra si mesmo: valeu a pena.
Eram os nossos sonhos. Ali, engavetados, esperando que o tempo fizesse o milagre de existir e nos ajudasse a chegar lá. E quando a a gente chega, a gente se pergunta: será que o lá, continua lá? Bem... se é sobre sonhos... Enquanto sobrarem energias, eles continuarão nos movendo, porque menor que nossos sonhos, não podemos ser.