Janete Silva dos Santos, minha avó

- Alô?
- A paz do Senhor Jesus?!
- Oooi, vóóóó...
- A paz do Senhor Jesus???!!!
- Amém!

Imagine um grande castelo de cartas. Todas elas empilhadas, apoiando-se umas nas outras. Dependendo umas das outras para continuarem em pé. Neste 15 de agosto, uma carta, posicionada na base do castelo de cartas da minha família, caiu. Um castelo de cartas sem uma base firme e sólida, não consegue manter-se em pé.

Foi neste 15 de agosto que perdi, inesperadamente, uma das pessoas mais importantes da minha vida. Uma das bases do meu castelo. Minha Amada avó se foi. Parece que a ficha ainda não caiu. Parece que tudo é uma grande mentira e que amanhã, chegarei na Felipe Reiser e lá estará a minha vózinha, sentada na sua cadeira e fumando seu cigarrinho depois do almoço.

A vó Janete era esperta. Não dava ponto sem nó. Não falava sem pensar, não falava por acaso, jogava verde para colher maduro. Leonina com gênio forte, assim como eu, de vez em quando saía faísca em nosso relacionamento. Mas essas situações eram até engraçadas. 

Ninguém no mundo se preocupava comigo tanto quanto ela. Na verdade, ela se preocupava com todo mundo, até demais. Era um zelo imenso, uma postura que a deixou frágil. Uma proteção excessiva.

Com ela, muito aprendi. Aprendi das coisas mais simples, como o que é uma faca de dois gumes, até pensamentos de vida, como a que ela me disse uma semana antes de morrer: defeito não é pecado. 

Sou desviado, viado, descontrolado... Posso ter todos os defeitos do mundo, mas tenho fé. Esta, que foi minha vó quem pregou. Se toda a crença fanática que ela carregava estava certa, sei que ela está realmente pulando de alegria. Deve ser o anjo mais feliz do céu. Se lá chegou e encontrou Jesus, com toda a certeza está realizada. Está em boas mãos, nas mãos do Pai e do Filho... E isto me conforta, pois foi por Eles que ela viveu.
Isso não faz com que a saudade se vá. Ela fica e aumenta. Sentirei falta de comer o pão sem miolo, o pão de leite com nescau, de ganhar um envelope com R$20 no natal. De tomar todo o cuidade para não deixar nem um pingo de água cair no chão enquanto encho o copo e de dormir com o travesseiro na cabeça pra evitar ouvir o seu ronco.

Neste 16 de agosto, meu aniversário, enterrei a minha avó. Um dia de alegria, transformou-se no dia mais triste e difícil dos meus 20 anos de idade. Mas, antes de deitar-me para dormir, vou agradecer aos céus por ter levado-a em paz. 

E assim será: de joelhos, na beirada da cama, imaginando e recordando dela ali do meu lado, farei a oração que ela me ensinou, quando criança: "Menino Jesus, vem para mim. Faça de mim uma boa criança. Meu coração, é pequenino, cabe somente Jesus menino."

Obrigado Vó, por ter vivido por nós, por abdicar sua vida pelas nossas.

Obrigado meu Deus, por ter me dado a honra de ter a Vó Janete em minha vida. 

Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente."

☆ 14.08.1936

✞15.08.2011

Com saudades, seu menino, Guto.