All the one

 

Empurrei a porta do elevador com força assim que ele chegou no térreo. Corremos dali disparados em direção a saída do edifício. Ela digitou os 6 dígitos da senha que libera a porta e então ela se abriu. Ao caminho do carro, entregou-me a chave com aquele chaveiro de borboletinhas coloridas e falou "tu dirige?".

Pra variar, arranquei o carro e tinha esquecido de acender os faróis. Ela sempre tinha que me lembrar de alguma coisa, ou então eu deixava o freio de mão puxado, a marcha no ponto morto, ou sei lá o que. Ainda bem que ela sempre estava ali.

A primeira parada foi no posto de gasolina aonde as coisas sempre aconteciam. Aqueles tanques de combustível sabiam mais da gente do que nós mesmos. A noite seguiu como sempre. Drinks, papéis, cigarros, comprimidos, conversas, besteiras, risadas, beijos, músicas e ela. Ainda bem que ela sempre estava ali.

Todas as noites que se seguiram eram mais ou menos assim. Em algumas o carro estava superlotado, o elevador tinha tanta gente que eu tinha medo que o cabo não suportasse o peso. Em outras não tinha ninguém, mas, pelo menos, ela estava ali. Ainda bem.

Ela esteve ali no pior dia da minha vida para enxugar minhas lágrimas e tentar arrancar algum sorriso, ela sabia a dor que eu estava sentindo. Ela estava ali pra me jogar embaixo de um chuveiro quando eu achei que iria enlouquecer ou pra segurar minha mão firme no meio de uma área de fumantes quando um fantasma do passado me assombrava. Ela estava ali para pensar a mesma coisa que eu, instantâneamente. Ela estava ali no dia em que o tédio bateu, no dia em que o sono dominava e só uma laranja, verdinha, vermelinha, roxinha, multicoloridas arco-íris pudesse me levantar. Ela também estava ali no dia em que ela mesma precisava desabafar, chorar, dormir num ombro amigo e vice-versa.

Aconteceu tão rápido, tão do nada e tão intensamente. E o que me alegra e me faz sorrir é saber que "ainda bem que ela estava ali", do meu lado.

Augusto Cruz