Cresci correndo pelas ruas do São João. Todas as manhãs, saía com minha bicicleta, sem destino, a percorrer os labirintos que se formavam pelo bairro. Sempre acompanhado de meus fiéis cachorros e, as vezes, meus vizinhos, vivi muitas aventuras que carrego sempre na memória.
Por mais que amasse o lugar onde morava, sempre estudei nas escolas do centro, por acreditar que o ensino fosse de melhor qualidade. Enganei-me e só fui me dar conta disso aos 12 anos, quando fui matriculado na 7ª série do ensino fundamental, na Escola Básica João Duarte. Lutei e relutei com todas as minhas forças para evitar estudar naquela escolinha, mas foi em vão. Arrastado até o primeiro dia de aula, cheguei sem muitos sorrisos, com ar de poucos amigos. Encontrei alguns conhecidos, sorri com o canto da boca e parti à sala de aula. Para falar a verdade, arrependi-me por ter julgado a instituição sem ao menos conhecer, pois fui muito bem recebido. Nem precisou de muito tempo, já tinha amigos, era conhecido pelos professores e até participava da Rádio Recreio. Estudava pela manhã, mas sempre arranjava uma desculpa para retornar durante a tarde. Quando me dei conta, a escolinha azul do menino-com-os-braços-abertos era meu novo lar.
Em 2005 retornei, desta vez na 8ª série. Ansioso para o primeiro dia de aula, excitado com a ideia da formatura, do passeio e todas as vantagens que os alunos do último ano tinham. Mas isso nunca deixou que eu abrisse mão dos estudos, tanto que, modéstia a parte, eu era um dos melhores da turma.
Lembro-me dos trabalhos, que fazia questão que fossem destaques, dos seminários, do grupo de street dance, da rádio, comissão de formatura e tantas outras atividades que não hesitava em participar.
Confesso que, no dia da formatura, chorei. Chorei não apenas por estar concluindo uma parte de minha trajetória escolar, mas por ter que deixar para trás um dos lugares que mais amava.
Depois daquele ano, poucas vezes retornei àquele prédio. Com o ensino médio, as responsabilidades aumentavam e não me restava muito tempo para visitinhas. Soube que a escola passaria por uma reforma e fiquei muito feliz com a notícia.
Em 2009, já na faculdade, optei pelo curso de Letras. Estava no sangue: minha mãe era professora de português, minha irmã pedagoga e lá estava eu entrando naquele caminho. Cresci rodeado de diários de classe, provas, trabalhos, poesia e literatura. Sempre fui apaixonado. Comecei a lecionar naquele mesmo ano, num centro de educação infantil, como professor de língua inglesa. Foi uma paixão! No segundo semestre, logo depois de completar a maior idade, fui contrato a dar aulas de língua portuguesa para 5ªs, 7ªs e 8ªs séries em escolas da prefeitura. Senti-me realizado profissionalmente. A partir daquele ano, não conseguia me ver fazendo outra coisa da vida.
No ano de 2010, já morando sozinho no São João, optei por mudar-me para Balneário Camboriú. Confesso que dias antes da mudança, senti forte aperto no peito por estar, de certa forma, abandonando meu verdadeiro lar. Mas ainda tinha família e amigos no bairro, não tinha chances de perder contato. Foi então, que um dia depois de estar morando em outra cidade, fui convidado a trabalhar no João Duarte. Deveria substituir a professora de língua portuguesa durante seus 6 meses de licença maternidade. Imagina: poder retornar ao lugar que me acolheu como aluno, no papel de professor. Aceitei. O prazo estava dado, mas como diria o grande poeta Vinícius de Moraes: "Que não seja imortal - posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure."
No mesmo dia já estava na escola, atarefado com os preparativos. Conheci o novo prédio. Tudo estava diferente e já não era mais o mesmo lugar. Mas aqueles muros traziam minha história. Aquele lugar foi cenário de muitas lembranças. E hoje eu estava lá novamente para fazer novas memórias.
Reencontrei-me com antigas professoras que agora seriam minhas colegas de trabalho. Alguém tem noção de como me sentia? Estar dividindo a cena com as pessoas que me ajudaram a chegar até ali? Era muito irreal.
Sempre fui questionado sobre como tão novo pude chegar à professor. E a resposta é simples: estudo, determinação, vontade e amor. Eu faço o que gosto. E na minha escolinha, eu gostava muito mais!
Foram dias de muito trabalho. As turmas eram agitadas e por vezes indisciplinadas, principalmente com um professor tão novo e com pouco mais de 1 ano de experiência. Com o tempo e com a ajuda dos profissionais da escola sempre dispostos, foi possível encontrar um ponto de equilíbrio. Todos os dias eu me via transmitindo o que um dia aprendi ali mesmo. Nossas aulas eram sempre alegres e divertidas, é meu jeito de ser e admito gostar de uma bagunça. Poder unir o útil ao agradável era ainda melhor.
Hoje, olhando para tudo o que foi vivido, é difícil dar as costas. Essas crianças e essa equipe eram maravilhosas demais para dizer apenas um adeus. Inevitável não umidecer os olhos. Por vezes o trabalho foi duro e exaustivo, mas cada gota de suor, cada suspiro e cada vez que precisei erguer a cabeça para continuar, valeram a pena. Cada dia era um aprendizado e preciso admitir que aprendi mais do que ensinei. Foi uma experiência que levarei comigo para o resto de minha vida profissional.
Não quero terminar minhas memórias com um adeus... Já me despedi desta instituição uma vez e agora estou aqui de novo. Não sabemos as voltas que a vida pode dar, quem sabe nossos destinos sejam entrelaçados novamente. Com certeza nos esbarremos por entre as ruas do São João ou em outros becos da vida, assim espero. Por hora, finalizo já carregando saudades no peito. É triste a dor do parto, mas tenho que partir.
Por mais que amasse o lugar onde morava, sempre estudei nas escolas do centro, por acreditar que o ensino fosse de melhor qualidade. Enganei-me e só fui me dar conta disso aos 12 anos, quando fui matriculado na 7ª série do ensino fundamental, na Escola Básica João Duarte. Lutei e relutei com todas as minhas forças para evitar estudar naquela escolinha, mas foi em vão. Arrastado até o primeiro dia de aula, cheguei sem muitos sorrisos, com ar de poucos amigos. Encontrei alguns conhecidos, sorri com o canto da boca e parti à sala de aula. Para falar a verdade, arrependi-me por ter julgado a instituição sem ao menos conhecer, pois fui muito bem recebido. Nem precisou de muito tempo, já tinha amigos, era conhecido pelos professores e até participava da Rádio Recreio. Estudava pela manhã, mas sempre arranjava uma desculpa para retornar durante a tarde. Quando me dei conta, a escolinha azul do menino-com-os-braços-abertos era meu novo lar.
Em 2005 retornei, desta vez na 8ª série. Ansioso para o primeiro dia de aula, excitado com a ideia da formatura, do passeio e todas as vantagens que os alunos do último ano tinham. Mas isso nunca deixou que eu abrisse mão dos estudos, tanto que, modéstia a parte, eu era um dos melhores da turma.
Lembro-me dos trabalhos, que fazia questão que fossem destaques, dos seminários, do grupo de street dance, da rádio, comissão de formatura e tantas outras atividades que não hesitava em participar.
Confesso que, no dia da formatura, chorei. Chorei não apenas por estar concluindo uma parte de minha trajetória escolar, mas por ter que deixar para trás um dos lugares que mais amava.
Depois daquele ano, poucas vezes retornei àquele prédio. Com o ensino médio, as responsabilidades aumentavam e não me restava muito tempo para visitinhas. Soube que a escola passaria por uma reforma e fiquei muito feliz com a notícia.
Em 2009, já na faculdade, optei pelo curso de Letras. Estava no sangue: minha mãe era professora de português, minha irmã pedagoga e lá estava eu entrando naquele caminho. Cresci rodeado de diários de classe, provas, trabalhos, poesia e literatura. Sempre fui apaixonado. Comecei a lecionar naquele mesmo ano, num centro de educação infantil, como professor de língua inglesa. Foi uma paixão! No segundo semestre, logo depois de completar a maior idade, fui contrato a dar aulas de língua portuguesa para 5ªs, 7ªs e 8ªs séries em escolas da prefeitura. Senti-me realizado profissionalmente. A partir daquele ano, não conseguia me ver fazendo outra coisa da vida.
No ano de 2010, já morando sozinho no São João, optei por mudar-me para Balneário Camboriú. Confesso que dias antes da mudança, senti forte aperto no peito por estar, de certa forma, abandonando meu verdadeiro lar. Mas ainda tinha família e amigos no bairro, não tinha chances de perder contato. Foi então, que um dia depois de estar morando em outra cidade, fui convidado a trabalhar no João Duarte. Deveria substituir a professora de língua portuguesa durante seus 6 meses de licença maternidade. Imagina: poder retornar ao lugar que me acolheu como aluno, no papel de professor. Aceitei. O prazo estava dado, mas como diria o grande poeta Vinícius de Moraes: "Que não seja imortal - posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure."
No mesmo dia já estava na escola, atarefado com os preparativos. Conheci o novo prédio. Tudo estava diferente e já não era mais o mesmo lugar. Mas aqueles muros traziam minha história. Aquele lugar foi cenário de muitas lembranças. E hoje eu estava lá novamente para fazer novas memórias.
Reencontrei-me com antigas professoras que agora seriam minhas colegas de trabalho. Alguém tem noção de como me sentia? Estar dividindo a cena com as pessoas que me ajudaram a chegar até ali? Era muito irreal.
Sempre fui questionado sobre como tão novo pude chegar à professor. E a resposta é simples: estudo, determinação, vontade e amor. Eu faço o que gosto. E na minha escolinha, eu gostava muito mais!
Foram dias de muito trabalho. As turmas eram agitadas e por vezes indisciplinadas, principalmente com um professor tão novo e com pouco mais de 1 ano de experiência. Com o tempo e com a ajuda dos profissionais da escola sempre dispostos, foi possível encontrar um ponto de equilíbrio. Todos os dias eu me via transmitindo o que um dia aprendi ali mesmo. Nossas aulas eram sempre alegres e divertidas, é meu jeito de ser e admito gostar de uma bagunça. Poder unir o útil ao agradável era ainda melhor.
Hoje, olhando para tudo o que foi vivido, é difícil dar as costas. Essas crianças e essa equipe eram maravilhosas demais para dizer apenas um adeus. Inevitável não umidecer os olhos. Por vezes o trabalho foi duro e exaustivo, mas cada gota de suor, cada suspiro e cada vez que precisei erguer a cabeça para continuar, valeram a pena. Cada dia era um aprendizado e preciso admitir que aprendi mais do que ensinei. Foi uma experiência que levarei comigo para o resto de minha vida profissional.
Não quero terminar minhas memórias com um adeus... Já me despedi desta instituição uma vez e agora estou aqui de novo. Não sabemos as voltas que a vida pode dar, quem sabe nossos destinos sejam entrelaçados novamente. Com certeza nos esbarremos por entre as ruas do São João ou em outros becos da vida, assim espero. Por hora, finalizo já carregando saudades no peito. É triste a dor do parto, mas tenho que partir.
(Augusto Cruz)
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