sábado, 28 de novembro de 2009

Dias melhores, pra sempre!

Mais uma balada e você lá. Alma aberta, coração vazio, copo cheio. O cidadão lindo, cheiroso e sarado do seu lado puxa papo e, você que não tá fazendo nada mesmo, começa uma interação. É “como você se chama?” daqui, “o que você faz da vida?” dali, “quantos anos você tem?” de lá... o currículo inicial básico. Depois de algum tempo, o módulo básico pula pro avançado. E a noite termina no avançado plus com direito a upgrade no dia seguinte. Perfeito.

No começo, tudo é lindo. Ninguém tem defeito. Todo mundo jura fidelidade e amor eterno. No terceiro mês, você desconfia porque a vizinha do quarto andar liga tanto pra ele, porque o futebol termina meia-noite, porque todo dia ele tem uma nova entrevista de emprego, porque ele sempre sai com algum amigo que você nunca ouviu falar antes. Por que tanta história estranha? É só coisa da sua cabeça? Você tá vendo coisa demais? Ou é só ciúme?

Você já não freqüenta as baladas que gostava. Mal sai com as amigas. Perdeu contato com seus amigos homens. Parou de correr às terças e quintas com seu vizinho. Deletou seus ex-namorados, rolos e ficantes do MSN. Excluiu seu orkut. Deletou números suspeitos do seu celular. Você cede, cede, cede. Até uma hora que a corda cede. Arrebenta.

Você cedeu tanto, sem perceber, que murchou. Secou feito uma flor no inverno. E agora espera a primavera da janela da sua casa, de onde, inclusive, você mal sai. É de casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Ele que te achava linda, mal te vê. Sua luz apagou. Foi-se o brilho junto com as noites de festa. A poesia virou drama. O avião virou ônibus. O amor se transformou num saco de lixo sem fundo onde vocês vão jogando todas as brigas.

Mas será que o amor é isso? Cadê aquele cidadão que te achava linda com o cabelo atrapalhado de manhã cedo? Cadê aquele cara que andava com o celular tirando foto de cada movimento que você fazia? Cadê aquele cara que fechava os olhos e sentia seu perfume no ar quando você usava Love Spell? Cadê aquele cara que disse que nunca ia te largar? Cadê aquele cara que viajou, que insistiu, que moveu o mundo pra ficar com você?

E cadê você?

Você tá em algum canto. Largou sua vida de lado e foi viver a dele. Enquanto ele se divertia com os amigos, você enchia o saco dele com suas crises de ciúme. Enquanto ele ia pra festa, você ficava em casa queimando neurônios imaginando o que ele estaria aprontando. E quanto mais ele vivia, mais você esmoecia. Murcha como uma criança que acabou de descobrir que Papai Noel não existe. Que o amor, você nem sabe mesmo se ele existe. Que a confiança e o respeito às vezes valem mais do que juras de fidelidade eterna. Que não existe nada eterno. Que a gente nunca sabe até onde vai se a gente não pagar pra ver e for junto. Que vai até aonde a gente deixar ir. Que alguns caminhos não têm volta, mas têm várias saídas de emergência. Que a sua vida tem urgência e todo resto é bobagem. Que você nasce sozinho pra aprender a fazer escolhas sozinho. E que você só está acompanhado quando aprende a ficar sozinho.

Tudo muda, o mundo muda, ele tem seu telefone e não te liga, você corre atrás e ele não liga, e nessa hora é sim, a hora de entender de uma vez por todas que acabou, e que as histórias nem sempre tem um final feliz.